Conhecimento com alma: O que a inteligência artificial não pode aprender e como isso nos fortalece
Colegas, vamos ser sinceros. Nossos e-mails, nossos grupos de WhatsApp e os corredores do escritório ou, cada vez mais, as salas do Meet e Teams, estão cheios de uma energia nova. É uma energia que fala com naturalidade sobre “prompt”, “algoritmo”, “machine learning”. É a conversa da inteligência artificial, da automação e, claro, da nova geração que cresceu com computadores e celulares em mãos. Para muitos de nós, que já passamos por outras batalhas e transformações, essa avalanche de novidades pode soar como uma ameaça. Uma daquelas que cochicha no nosso ouvido: “Será que minha experiência ainda vale alguma coisa?”
Eu te entendo. A gente já viu de tudo um pouco, não é? Lembro como se fosse hoje do tempo em que as reuniões de brainstorming eram de verdade, com caneta, papel, cafezinho e uma lousa cheia de rabiscos. Onde o briefing do job era impresso e guardado dentro de um envelope pardo. A gente enviava fax da nota fiscal para os clientes. Sim, a gente já passou por isso. Já fomos os novatos desbravando o desconhecido, e agora somos o farol na tempestade.
Ouvimos por aí que a IA vai resolver todos os problemas de gestão, que a nova geração já nasce com a mente programada para a eficiência e que a nossa experiência, construída em cima de erros e acertos analógicos, está se tornando obsoleta. Sabe de uma coisa? Isso é a maior bobagem que podemos pensar.
Da internet ao ChatGPT: Já estivemos aqui antes
Vamos voltar um pouco no tempo. Lá no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, quando a internet começou a se consolidar como uma ferramenta de trabalho. Você se lembra do furor que foi? De repente, tínhamos que migrar processos manuais para plataformas digitais. O site da empresa não era mais um diferencial, era uma obrigação. As reuniões presenciais se misturaram com conferências online. A gente teve que aprender a usar um monte de coisa nova. E o que aconteceu? A gente aprendeu. Se adaptou. E, mais do que isso, usamos nossa experiência para entender onde a tecnologia se encaixava e onde a nossa humanidade e nosso toque eram insubstituíveis.
A internet não nos substituiu. Ela se tornou uma ferramenta para nós. E o mesmo vale para a inteligência artificial. Ela não é um substituto, mas uma aliada. É a caneta que agora escreve um pouco mais rápido, a calculadora que faz as contas por nós, a lousa que agora pode ser compartilhada em tempo real com o mundo todo. O nosso papel, como gerentes de projeto, continua sendo o mesmo: sermos os maestros da orquestra. Somos nós que entendemos a partitura, que conhecemos cada músico, que corrigimos o ritmo e que garantimos que a melodia final seja perfeita. E nenhuma IA, por mais sofisticada que seja, pode fazer isso por nós. Pelo menos não com a emoção e o conhecimento que a gente tem.
A experiência não é uma cadeira de balanço
Uma das maiores falácias que se espalha por aí é que a experiência te engessa. Eu realmente não acredito nisso. A experiência te liberta. Ela te dá a capacidade de ver o todo, de identificar padrões onde os outros só enxergam dados aleatórios. A experiência é a sua biblioteca pessoal, onde cada livro é um projeto que você gerenciou, um stakeholder que você acalmou, um bug que você desvendou.
Quando a IA te entrega uma análise de risco, a sua experiência entra em campo para validar essa análise. Você já viveu projetos parecidos, já sentiu o cheiro do problema antes que ele se concretizasse. A IA pode prever o risco, mas é a sua sabedoria que vai te dizer o que fazer com essa informação. É a sua soft skill – essa habilidade de lidar com pessoas, de sentir o clima da equipe, de negociar com um cliente – que a IA não pode replicar. É saber que tomate é uma fruta, mas que é melhor não servi-la em uma salada de frutas com bananas e maçãs.
Sabe por que somos os melhores para navegar nessa nova onda? Porque já navegamos em outras. Já vimos a maré subir e descer. Já entendemos que o sucesso de um projeto não está na ferramenta que usamos, mas na forma como a usamos. E, mais importante, na forma como conectamos as pessoas para que a ferramenta seja apenas um meio, e não o fim.
O papel da nova geração: Oportunidade, não ameaça
Agora, vamos falar dos novatos. A nova geração não é o inimigo. Eles são o nosso espelho, e também a nossa chance de aprender de novo. Enquanto nós, “os mais velhos”, temos a experiência de vida e de mercado, eles têm a familiaridade com as novas ferramentas e um entusiasmo contagiante. Eles não temem a IA, eles a abraçam como se fosse uma extensão natural de suas mãos.
É aqui que a mágica acontece. A gente precisa parar de ver essa relação como uma competição e começar a enxergá-la como uma parceria. Eles nos mostram o “como”, e nós, com a nossa bagagem, mostramos o “porquê”. Eles podem nos ensinar a usar a IA para otimizar um cronograma, e nós podemos ensiná-los a lidar com aquele cliente que tem um temperamento mais… “analógico”.
A história do mestre carpinteiro e do jovem aprendiz
Deixa eu te contar uma história.
Havia um mestre carpinteiro, conhecido por sua habilidade em construir as mais belas casas de madeira. Ele não usava ferramentas elétricas, apenas as suas mãos e seus instrumentos antigos. A cada encaixe, a cada polida na madeira, ele demonstrava uma paciência e um cuidado que pareciam impossíveis para os mais jovens. Um dia, um jovem aprendiz, cheio de entusiasmo e com as mais modernas ferramentas elétricas, chegou à oficina do mestre. Ele viu o trabalho lento e cuidadoso do velho e pensou: “Com minha serra elétrica, eu faria isso em um quarto do tempo.”
O jovem, então, desafiou o mestre a uma competição. Cada um construiria uma porta. O mestre, com seu serrote e seu cinzel, e o jovem, com sua serra elétrica e sua parafusadeira.
O jovem trabalhou rápido, com a serra zunindo e a parafusadeira tilintando. Em poucas horas, sua porta estava pronta, com cortes precisos e parafusos perfeitamente alinhados. Ele sorriu, vitorioso, e disse: “Veja, mestre! A tecnologia é imbatível.”
O mestre, que ainda estava trabalhando, apenas sorriu e continuou seu ofício. Ele levou mais um dia para terminar sua porta. Mas, quando a terminou, a diferença era gritante. A porta do jovem era funcional, mas a do mestre… a do mestre era uma obra de arte. A madeira, tratada com carinho, tinha uma textura única. O encaixe das peças era tão perfeito que parecia que a porta havia sido esculpida em um bloco único. O cheiro da madeira e a sensação ao toque eram incomparáveis.
O jovem, intrigado, perguntou: “Mestre, por que sua porta é tão diferente, se a minha tecnologia é mais rápida?”
O mestre, tocando gentilmente a porta, respondeu: “Meu jovem, suas ferramentas são poderosas e eficientes. Elas fazem o trabalho rapidamente. Mas minhas ferramentas me obrigam a conhecer a madeira, a ouvir o que ela tem a me dizer. A sua serra é cega para os nós e as veias da madeira. Minha serra os respeita. Você construiu uma porta; eu construí uma porta que tem alma.”
A moral da história é clara: a tecnologia nos dá eficiência e velocidade. Mas a experiência nos dá o conhecimento, a sensibilidade e a humanidade para ir além da mera funcionalidade e criar algo que tenha alma.
A IA pode ser a nossa serra elétrica. Mas nós, com a nossa experiência, somos os mestres que a usam para criar algo verdadeiramente grandioso.
Qual é a sua “serra elétrica” atual e como sua experiência tem te ajudado a usá-la para criar projetos com “alma”?
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