Liderança feminina e o impacto na saúde integral das equipes criativas
Durante muito tempo, a narrativa dominante nas agências e empresas do mercado criativo foi a da genialidade individual, das longas noites, das entregas “para ontem” e de uma liderança baseada em pressão, ego e competição. Sabemos o quanto esse cenário adoece.
Quando decidi construir uma agência de Marketing Consciente e formar uma equipe majoritariamente feminina, meu objetivo não era apenas trazer representatividade ou seguir uma “tendência de diversidade”. Era uma decisão estratégica. Porque, observando na prática, percebi que quando mulheres lideram com consciência, responsabilidade e visão sistêmica, a equipe inteira floresce e o negócio também.
Um dado incômodo para começarmos
Apenas 6% dos cargos de CEO no mundo são ocupados por mulheres, segundo a Women in the Boardroom (Deloitte). Sim, 6%. Essa pesquisa é de 2024.
E não é porque faltam mulheres qualificadas. É porque faltam espaços, incentivo, segurança psicológica e estruturas que não penalizam quem carrega, socialmente, grande parte do trabalho emocional e do cuidado.
Apesar disso, as pesquisas mostram que empresas com mais mulheres em posições de liderança inovam mais, têm maior estabilidade emocional interna, retêm talentos por mais tempo e apresentam melhores resultados financeiros.
Ou seja: diversidade não é só pauta social. É sobre eficiência, inteligência de negócio e visão de futuro.
Liderança feminina não é só acolhimento, é estratégia
Quando falamos de liderança feminina, não estamos falando de um “instinto natural para cuidar”. Estamos falando de um repertório social e cultural que foi historicamente desenvolvido pelas mulheres e que hoje precisa ser visto como competência de gestão.
Coisas como diálogo, escuta ativa, visão relacional, pensamento sistêmico, empatia, flexibilidade estratégica, e colaboração.
Essas capacidades sustentam um tipo de liderança que favorece a criatividade, a inovação e a saúde mental, pilares essenciais para qualquer negócio que dependa de ideias.
Homens também podem e devem desenvolver isso. Mas, hoje, é inegável que a maioria das mulheres já chega ao mercado com esse repertório mais acessível.
A saúde integral como pilar da criatividade
Criar não é produzir. Criar exige presença, espaço mental, repertório, estabilidade emocional, descanso e uma sensação mínima de segurança.
Pressão constante, microgestão, inflexibilidade e medo são inimigos diretos da criatividade.
Por isso, ao falar de liderança feminina, eu falo também sobre saúde integral, algo que, na prática, significa olhar para a pessoa inteira: seus ciclos, seus desafios, suas dores e suas potências.
Na nossa agência Direção, por exemplo, isso se traduz em ações simples, mas profundamente transformadoras:
- Se uma colaboradora está menstruada e com cólica, ajustamos tarefas para permitir mais tempo de descanso.
- Se precisar acompanhar algum parente ao médico, não criamos motivos de tensão, sabendo que 85% do trabalho de cuidado no Brasil é realizado por mulheres (IBGE).
- Se precisar ir ao ginecologista ou fazer um exame, não precisa justificar como se estivesse faltando a um compromisso sagrado.
- Se começou a terapia, comemoramos!
- Se retomou uma rotina de movimento ou alimentação, celebramos juntas.
Essas pequenas práticas constroem algo poderoso: capital emocional.
E o capital emocional é o que mantém um time criativo funcionando bem, com qualidade, consistência e saúde.
O impacto no negócio é direto
Existe uma percepção equivocada de que cuidado reduz produtividade.
Eu vejo justamente o contrário acontecer todos os dias.
Quando alguém se sente respeitada, escutada, valorizada, segura para existir e livre para pedir ajuda, automaticamente ela contribui mais.
Ela propõe soluções, identifica oportunidades e se responsabiliza pelo crescimento do negócio. Cria com mais ousadia, profundidade e consistência.
A saúde integral não é um benefício.
É uma estratégia de alta performance, principalmente em negócios criativos.
O que também precisa ser dito
É importante reconhecer que mulheres líderes também carregam um risco: o da sobrecarga emocional. Muitas vezes, além de liderar, acabamos mediando conflitos, acolhendo dores e segurando a estrutura emocional do time.
Isso precisa ser nomeado para não virar mais um peso invisível.
Liderar com consciência exige limites, corresponsabilidade e estruturas claras, senão a própria líder adoece.
Liderança consciente é um caminho para todos, não só para mulheres
Eu não acredito que mulheres são as únicas capazes de liderar com cuidado, entendo que elas, pela trajetória social que carregam, encontram mais facilidade para acessar esse lugar.
Mas a liderança consciente, integral e humanizada é uma competência pessoal, não um atributo biológico.
E ela só se sustenta quando começa de dentro para fora, com autoconhecimento, terapia, estudo, reflexão e responsabilidade consigo mesmo.
O que eu vejo hoje, com muita clareza, é que quando uma mulher abre espaço para liderar de forma íntegra – respeitando seus limites, honrando sua humanidade e cultivando sua saúde integral – ela abre caminho para que toda a equipe faça o mesmo.
Isso, para mim, é revolução.
E é exatamente o que o mercado criativo ( cansado, adoecido e acelerado) mais precisa nesse momento.
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